quinta-feira, 3 de abril de 2008

Chamada à escola

Conversa ontem com a minha filha J:
J: Mãe se eu fizesse a mesma coisa que aquela aluna do telemóvel fez com a professora que me fazias?
Eu: Batia-te, obrigava-te a pedir desculpas publicamente, não ias à escola durante um ano e tirava-te o telemóvel até tu teres idade para trabalhares e comprares um. Porque me perguntas isso?
J: Por nada.
Eu: Passa-se alguma coisa? Que fizeste na escola?
J: Nada, mas a professora quer falar contigo.
Eu (a começar a ficar furiosa): Se quer falar comigo é porque fizeste asneira. Diz lá o que fizeste.
J: A sério que não fiz nada. A professora diz que quer falar contigo porque está preocupada comigo.
Eu: Mas preocupada porquê?
J: Não sei, vais lá e já ficas a saber.

Passei uma noite horrível a pensar no que a miúda teria feito na escola. Mil e uma coisas me passaram pela cabeça: bater em colegas, insultar a professora ou os funcionários, ter partido qualquer coisa, ter fumado, ter roubado...

E hoje lá fui eu falar com a senhora. Entro e ela meteu-me uma folha à frente. Comecei a ler e vi que era a letra da minha filha. Era uma composição com o tema "A minha turma". Vou transcrever aqui algumas partes, aquelas que deram confusão e fizeram com que a professora ficasse preocupada.

"A pessoa que mais gosto na turma é o João, é o meu namorado desde o primeiro ano. Um dia vou casar com ele, mas não vamos ter filhos porque deve doer muito a tê-los e muito mais a fazê-los"...
"A pessoa que menos gosto é a Inês. Não sei porquê mas sempre que ela fala irrita-me. Apetece-me pegar-lhe na cabeça e esborrachá-la contra uma parede até sair sangue. Só não o faço porque me podiam expulsar da escola e porque a minha mãe se chatiava comigo".

Acabei de a ler e disse:
Eu: Não era preciso chamar-me por causa de um erro como "chatiava".
Prof: O quê? Eu fiquei foi preocupada com as ideias da sua filha.
Eu: Eu sei, estava a brincar.
ProF: E acha que é altura para brincar com coisas sérias?
Eu: Claro que não, peço imensa desculpa.
E lá estivemos nós a falar durmte uns 40 minutos.

Resumindo: é claro que estou muito preocupada (e a reacção brincalhona que tive foi do nervosismo por não saber lidar com situações destas), mas no caminho para casa deram-me vários ataques de riso ao pensar no que ela escreveu.

Sou uma mãe incompetente, essa é que é essa.

4 comentários:

Anónimo disse...

Com 4 anos comi areia, queria saber a que sabia. Hoje sou um ser perfeitamente funcional, e em tudo "culpo" a educação que tive. A prof. fez o que lhe competia, cabe a ti relativizar, pois certamente conheces melhor a filha que tens ;)A imaginação só é perigosa quando chega à luz do dia, e se ela até agora não mais teve que pensamentos violentos, então é seguir em frente ;)

Ana Rodrigues disse...

Comer areia?? Essa é muito boa :)
Ela só tem estes pensamentos, mas não mostra quaisquer sinais de violência. Eu, na idade dela, era como ela.

Teka disse...

Não se preocupe, é tão saudável elas dizerem ou escreverem o que pensam. Preocupar-me-ia se ela estivesse quietinha a um canto e não falasse nem escrevesse nada.

Ana Rodrigues disse...

Obrigada pelo comentário Teka. Também concordo que seja saudável.